A morte gingou e mandou:
– Stewart, chegou a sua hora!
– Mas tão cedo? Não pode vir noutro dia?
– Amanhã no máximo.
O resto do dia foi horrível. Stewart ligou para seus parentes, avisando que
estava perto do fim. Fizeram as despedidas. Ele passou o dia com sua família e
seus filhos. Tão lindos. E logo seriam orfãos. Não conseguiu nem dormir na
mesma noite. Imaginava como seria morrer.
O dia amanheceu e nada da morte aparecer. Stewart passou o dia aflito. A
qualquer hora poderia bater as botas definitivamente. Procurou se cuidar. Não
saiu de casa. Não fez coisas perigosas. Somente esperou. Nem mesmo ligou a
televisão. Comeu pouco e bebeu quase nada. Recusou até o chá da tarde.
O segundo dia foi confuso. A morte já deveria ter aparecido. Qual seria o
destino de Stewart? Sentiu-se aliviado mas suas mãos ainda tremiam. Não passou
um segundo sequer no escuro. Não foi trabalhar, afinal, iria morrer logo.
Imaginou que a morte estivesse brincando com ele. Divertindo-se de suas
agonias. E ficou com raiva dela. Mas também com medo.
Não era possível entender a morte. No terceiro dia, Stewart estava vivo, mas
suando frio. “A qualquer hora”, ele pensava. Parecia mais que Stewart estava
pregando uma peça das grandes na mulher e nos filhos. Eles ficaram bravos. Mas
felizes por ele estar vivo.
Já nesse ponto, o pai da família também ficara mais tranquilo. Não voltou à sua
rotina, pois ainda tinha medo. Mas pensava que tudo não passara de um sonho
ruim. Pelo visto não morreria mais. Afinal, já haviam se passado quatro dias e
nada da morte dar notícia.
O café da manhã foi reforçado no amanhecer do quinto dia, quando ele voltou ao
trabalho. Os colegas o receberam. Só o chefe olhou torto e perguntou o motivo
das faltas. Ele alegou uma doençazinha qualquer para disfarçar (não contara ao
chefe que morreria). Buscou as crianças na escola e beijou a esposa para que
ela também tivesse uma boa noite de sono. Comemorava quase uma semana sem a
morte.
O sexto dia foi uma festa. A morte já passava longe dos pensamentos de Stewart.
Fizeram uma grande comemoração. Teve música alta, dança e muita comida. Era
final de semana e todos estavam felizes. Dormiu tarde naquele dia, com um
sorriso bobo na cara de quem vencera um grande desafio.
Acordou cedo e sentiu-se diferente. A morte o fitou de cima a baixo.
– Vamos, então?
– Como assim?
– Você finalmente morreu. Já pode me acompanhar.
– Você me deixou ficar mais tempo?
– Digamos que eu me atrasei. Mas não foi por querer.
Se deram as mãos e foram. Ele de pantufas. Ela de havaianas. E no final, depois
de muito perguntar, Stewart entendeu. A morte respondeu que só se atrasara por
que o trânsito de São Paulo, pra variar, estava um inferno.